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segunda-feira, 26 de março de 2018

A Psicologia no contexto hospitalar

Com a ascensão da Psicologia nos últimos tempos e com a inclusão dos psicólogos nos mais variados ambientes, muitos hospitais do Brasil agregaram esses profissionais em sua equipe multidisciplinar. O psicólogo deixou de ser caracterizado como aquele que atende apenas em consultório particular e passou a contribuir com seus saberes na área da saúde, até então liderada por médicos e enfermeiros. Segundo a OMS (1948) saúde não é somente a ausência de doença, mas sim um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Nesse sentido, compreende-se que o ser humano é muito mais que um corpo físico (PESSÔA et al., 2004:2). Ele passa a ser um sujeito integrado com seus aspectos psicológicos, sociais e biológicos. No final da década de 50 e durante toda a década de 60 a Psicologia foi adentrando no âmbito hospitalar em sinal às novas tendências que apontavam para o ser humano como um sujeito biopsicossocial na compreensão da doença, antes limitada na concepção clássica do modelo biomédico (SPERONI, 2006:90). Certamente, essa inserção foi lenta e repleta de preconceitos sobre a atuação de um profissional da saúde mental no cenário onde a prevalência era de dooenças físicas. Esse preconceito não advinha apenas de leigos, mas também de médicos (PORTAL EDUCAÇÃO, 2012:11). Em falta de um paradigma claro da nova especialidade na época, muitos psicólogos tentaram transpor para o hospital o modelo clínico habitual, sem levar em consideração e sem conhecer as limitações institucionais. Assim, muitos atendimentos foram malsucedidos no primeiro momento. Por esses motivos, a Psicologia Hospitalar foi conceituada no Brasil somente na década de 60, já que as referências técnicas e teóricas eram escassas (SPERONI, 2006:91). A trajetória dessa disciplina se deu no sentido inverso, isto é, da prática para a teoria. A Psicologia foi crescendo e tomando seu espaço à medida que se enfatizou o caráter preventivo e o entendimento do ser humano em sua globalidade, considerando não só os aspectos físicos, mas emocionais da doença. Ao tratar desses aspectos, fica clara a abertura da Psicologia para as novas demandas que surgiam. A tentativa de mudar o foco da atenção à saúde contribuiu para que a inclusão do psicólogo e de outros profissionais fosse feita e que uma equipe multiprofissional fosse formada (PORTAL EDUCAÇÃO, 2012:12). Foi então, somente no final da década de 80, que um movimento de profissionais para demarcar a Psicologia Hospitalar como especialidade começou. Esse fato se concretizou formalmente quando o Conselho Federal de Psicologia promulgou a resolução de nº 014 regularizando a concessão do titulo de especialista para a Psicologia Hospitalar e outras áreas (TONETTO; GOMES, 2005:283). Vale ressaltar que a Psicologia Hospitalar é o nome dado ao profissional que atua exclusivamente dentro do ambiente hospitalar. De acordo com Simonetti: Psicologia Hospitalar é o campo de entendimento e tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento. O adoecimento se dá quando o sujeito humano, carregado de subjetividade, esbarra em um “real”, de natureza patológica, denominado “doença”, presente em seu próprio corpo, produzindo uma infinidade de aspectos psicológicos que podem se evidenciar no paciente, na família, ou na equipe de profissionais. (2013:15) Ainda para esse autor (2013:15) o profissional nesse contexto voltará o seu olhar para os aspectos psicológicos envolvidos na doença, visto que toda doença vem carregada de subjetividade. Desse modo, o paciente se beneficiará do trabalho do psicólogo hospitalar. Ele complementa dizendo que: A psicologia hospitalar enfatiza a parte psíquica, mas não diz que a outra parte não é importante, pelo contrário, perguntará sempre qual a reação psíquica diante dessa realidade orgânica, qual a posição do sujeito diante desse “real” da doença, e disso fará seu material de trabalho (SIMONETTI, 2013:16). Para corroborar com essa ideia, Cantarelli (2009:140) expressa que não é a doença em si que interessa à psicologia hospitalar, mas sim a relação que o doente tem com seu sintoma e o significado que lhe é conferido, e a isso só conseguimos obter através da palavra. Também é papel do psicólogo minimizar o sofrimento advindo da hospitalização, assim como melhorar a qualidade de vida do paciente e proporcioná-lo condições favoráveis para lidar com as situações da enfermidade (ANGERAMI-CAMON, 2003:23). Em síntese, o psicólogo vai dar assistência ao paciente, lidar com suas angústias e a dos seus familiares, diminuir o sofrimento provocado pelo processo de hospitalização e trabalhar os aspectos emocionais envolvidos na doença. Ainda discorrendo sobre a função do psicólogo no hospital, Cantarelli menciona que: No hospital, o psicólogo tem uma função ativa e real, que não puramente interpretativa. Sua atuação se dá ao nível de comunicação, reforçando o trabalho estrutural e de adaptação do paciente e familiar ao enfrentamento da intensa crise. Nesta medida, a atuação deve se direcionar em nível de apoio, atenção, compreensão, suporte ao tratamento, clarificação dos sentimentos, esclarecimentos sobre a doença e fortalecimento dos vínculos familiares. Portanto, a atuação do psicólogo é permeada por uma multiplicidade de solicitações como: preparação do paciente para procedimentos cirúrgicos (pré e pós-operatório), exames, auxílio ao enfrentamento da doença e seu tratamento, atenção aos transtornos mentais associados à patologia, tornando o paciente ativo no seu processo de adoecimento e hospitalização (2009:139). Embora o psicólogo hospitalar venha agregar à equipe e buscar a humanização do paciente internado, ele se depara com algumas dificuldades na sua atuação. Primeiramente, não é o sujeito quem o procura, mas sim o profissional que vai até o leito e convida o sujeito a falar sobre sua doença. Nesse caso, vale lembrar que ele pode rejeitar o atendimento. Em segundo, o hospital não fornece o “setting ideal” como no consultório particular, isto é, muitas vezes o paciente está acamado, com outros internos por perto e rodeado de equipamentos. Além disso, o atendimento pode ser interrompido por outros profissionais para ministrar dose de remédios, dar o banho ou aferir a pressão, por exemplo. (ANGERAMI-CAMON, 2003:19). O psicólogo deve aprender a lidar com isso e realizar o seu trabalho dentro do possível, fazendo o seu melhor. Em sua atuação o psicólogo ajudará o enfermo a resgatar sua identidade através da expressão dos seus sentimentos, podendo, desse modo, contribuir no seu fortalecimento e na crença de sua recuperação. Ao mesmo tempo, é fundamental que o profissional proporcione condições para que a comunicação entre paciente-família e paciente-equipe seja a mais clara possível (PORTAL EDUCAÇÃO, 2012:33).

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Por que a redução da maioridade penal não vai resolver o problema?

           Muito tem se falado e abordado sobre o tema da redução da maioridade penal nas mídias. Com a nova lei prestes a ser aprovada no Congresso, várias instituições e grupos de especialistas que trabalham ou têm experiência com adolescentes tentam esclarecer sobre alguns mitos e verdades a respeito do que tem sido apontado por aí. A verdade é que diversos conselhos, grupos de profissionais e educadores, que têm experiência com jovens, são contra a redução da maioridade penal. E o Conselho Federal de Psicologia e a maioria dos psicólogos, assim como eu, também.
          As mídias exercem forte poder sobre as pessoas tratando os adolescentes como criminosos e com capacidade de exercer perigo. Alguns realmente são, no entanto, os argumentos utilizados são exagerados, sem conhecimento e apoiados no senso comum, o que não esclarece nada, ao contrário, estigmatiza ainda mais os jovens. Nesse sentido, ela é tendenciosa.
          Adolescentes são jovens entre 12 e 18 anos que estão em peculiar estados de desenvolvimento. Há pessoas que dizem que os adolescentes não são responsáveis pelos seus atos, e por isso devem ser presos por cometerem crimes, mas a própria Psicologia age como ele sendo autor de suas escolhas. Nós os responsabilizamos pelos seus atos. Argumentam que são incontroláveis e fazem o que querem. Isso é outro mito, pois as medidas socioeducativas prezam a responsabilidade gradativa, ou seja, aos poucos vão conhecendo seus limites, direitos e deveres. 
           O Estado tem o dever de proteger os jovens e não criminalizá-los e culpá-los. Sendo assim, a cada discussão favorável a redução da maioridade penal sobrecarrega esses jovens colocando-o pagador de uma conta que não é dele. Eles tornam-se vítimas. Além disso, os adolescentes morrem mais nesse mundo violento do qual vivemos do que cometem crimes. Muitas vezes são chantageados e coagidos e um crime cometido por um jovem de 12 anos, por exemplo, torna-se contingencial. Os acessos ao mundo do crime são passados pela cultura em que vivem e se não há outros valores e sentidos a serem transmitidos é perigoso que eles percebam essa forma como a mais sedutora e fácil. Mais uma vez é preciso protegê-los. Os crimes cometidos por adolescentes têm uma pena maior do que se fosse um adulto. E a minoria desses crimes (7%, 8%) é causado por eles e não a maioria, como dizem por aí.
             Outro mito e talvez o mais grave seja iludir-se com a ideia de que a redução da maioridade vai diminuir a violência e a criminalidade. A punição não vai diminuir a criminalidade. O problema não será resolvido, aliás, vai se agravar ainda mais os problemas carcerários e os mandatos não serão cumpridos. Então, o Estado vai se tornar um irresponsável, pois não poderá arcar com o cumprimento da pena e esses jovens terão que ser soltos. Após a vivência em um cárcere no Brasil sabemos bem que a mente de uma pessoa muda e a revolta dos jovens aumentará. Ele sairá pior e deseducado. O Estado terá sido irresponsável com esse jovem. Os adolescentes devem receber medidas socioeducativas para reinventarem um novo sentido para suas vidas e não ser encarcerado. No entanto, é mais cômodo encarcerar que reeducar, ressocializar, reconstruir e instruir. Para adotar essas medidas são necessárias políticas públicas e investimento do Estado. 
              Em nenhum país foi presenciado a diminuição da criminalidade com a redução da maioridade penal. Em alguns estados dos Estados Unidos, por exemplo, ela até aumentou. A redução não resolve o problema e muito menos sua causa.
              A criminalização de tudo imprime uma responsabilidade ao Estado para que ele investigue, averigue, fiscalize e pontue ativamente. Se isso não ocorre, há desmoralização do Estado e ele perde suas forças. É preciso conseguir fazer àquilo que se propõe. E o Estado está preparado para isso?
              Tem-se a fantasia de que o controle não vai evitar as tentativas, mas sim o fim, o ato em si. Então, as pessoas vão se sentir mais tranquilas e o controle sobre as ações vão aumentar ainda mais. Instala-se aí o totalitarismo, ou seja, o controle de tudo. Ao mesmo tempo, a perda total de controle, pois quanto mais se tenta barrar um ato, mais alternativas vão sendo criados para burlar o controle. 
              Enfim, o controle, a redução da maioridade penal, a culpabilização, o encarceramento e as medidas que se pretendem adotar não vão resolver a questão da criminalidade e da violência. As medidas socioeducativas, os investimentos na educação e nas políticas públicas continuam sendo o melhor caminho. Os adolescentes não merecem pagar uma conta por erro do Estado. Eles devem ser protegidos e resguardados por ele; essa é sua obrigação e direito dos jovens.  
              

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

HIV e aspectos psicológicos: o que há de comum?

          Em lembrança ao dia 1º de dezembro, Dia Internacional da Luta contra a AIDS, recordei de um artigo muito interessante que li na época da faculdade. O guardei para posteriores consultas e quero trazer a ideia central para conhecimento de todos. O artigo cujo nome é: Psiconeuroimunologia e infecção por HIV: Realidade ou ficção? de Sara Ulla e Eduardo Augusto Remor, foi publicado em 2002.

          O texto procura estabelecer as relações entre a Psiconeuroimunologia (PNI) e os portadores do vírus HIV. A PNI é um campo interdisciplinar que tenta criar laços entre as neurociências e a imunologia. Em outras palavras, o comportamento, as emoções e outros aspectos psicológicos em relação ao sistema nervoso, imunitário e endócrino. Segundo as pesquisas feitas os fatores psicossociais, como controle do estresse, estratégias de enfrentamento, apoio social, hábitos e estilos de vida podem estar associados com a evolução da carga viral. 

          Pode-se dizer que um pior estado de ânimo, maior nível de estresse ou estratégias de enfrentamento mal direcionadas para a solução dos problemas podem fazer com que o vírus progrida mais velozmente contribuindo para um prognóstico negativo. 

          Em relação ao estresse, um dos fatores psicológicos estudados, seu alto nível pode levar ao desequilíbrio de vários sistemas ou órgãos porque obriga o organismo a manter uma ativação de suas possibilidades e dá lugar a um desgaste excessivo com possíveis alterações ou deterioração no funcionamento dos órgãos ou sistemas alvo. No caso do sistema imunológico, concluiu-se que o alto nível de estresse pode derivar em menor competência imunitária ou diminuir a quantia de diferentes subtipos celulares. Também, verificou-se a relação entre elevado nível de estresse e rápida evolução do HIV.
Sabe-se também que o estresse pode influenciar na produção de citocinas (grande grupo de moléculas que intervêm nos sinais produzidos entre as células durante a resposta imunológica e garantem o bom funcionamento do sistema), afetar processos inflamatórios, reativar vírus latentes, interferir na imunidade local da pele e propiciar infecções cutâneas. Em suma, esses dados indicam que o alto nível de estresse pode acelerar a produção viral e desenvolver a sintomatologia da AIDS. 

          Sobre as estratégias de enfrentamento, averiguou-se que mudanças ajustadas e adaptativas ao estilo cognitivo podem alterar positivamente na resposta de anticorpos. Um enfrentamento ativo e uma confrontação adequada das próprias emoções estariam relacionadas com um melhor nível da função imunológica. Portanto, as estratégias de enfrentamento adaptativas funcionariam como protetoras da aceleração viral. 

          O apoio social, outro fator psicológico analisado, atuaria sobre o nível de estresse e à modulação do indivíduo ao caráter ameaçador e ao controle da situação de risco. Em uma pesquisa feita em macacos Rhesus, encontrou-se uma diminuição da progressão do vírus HIV nos animais que mostraram um nível de interação e sociabilidade maiores. Estudos realizados em humanos também se verificaram a importância dos fatores sociais sobre a influência dos parâmetros imunológicos. Para os autores, o apoio social estaria atuando como modulador da resposta de estresse diante de eventos ameaçadores para a pessoa. Assim, comportamentos de afiliação e fortes laços sociais favoreceriam a competência imunitária e o adequado estado de saúde. 

          Os hábitos e estilos de vida também são relevantes para a qualidade do sistema imunológico e, consequentemente, para a regressão da carga viral. A prática de exercícios aeróbicos e o sono são fatores que acarretam efeitos positivos para o sistema imunológico. Entre um grupo que praticava atividade física, ocorreu alívio do mal-estar afetivo, em comparação ao grupo que não praticou atividade alguma. 

          Enfim, através das pesquisas feitas e dos estudos realizados, Ulla (2002) e Remor (2002) compreenderam que o alto nível de estresse, as estratégias de enfrentamento mal direcionadas às soluções dos problemas, estilos de vida inapropriados e frágeis laços sociais podem contribuir para a proliferação da carga do vírus HIV. Nesse sentido, as intervenções psicológicas direcionadas ao ajustamento do indivíduo e ao adequado controle do estresse estariam colaborando para a manutenção dos níveis imunológicos adequados, assim como a retenção da progressão da doença. 




quinta-feira, 10 de julho de 2014

Os testes psicológicos como recurso da Psicologia


Atualmente, trabalho na área de Avaliação Psicológica, da qual gosto muito, e por isso resolvi falar sobre esse tema e sobre os testes psicológicos validados pelo Conselho Federal de Psicologia.

Os testes psicológicos são recursos aproveitados por muitos profissionais do âmbito da Psicologia e apenas eles podem usá-los. Podem ser incluídos como métodos tanto na avaliação psicológica para processos seletivos, como para a área clínica, escolar, jurídica e da saúde.

É importante dizer que Avaliação Psicológica não é sinônimo de teste psicológico, é muito mais que isso. Os testes são apenas um dos recursos utilizados no processo de avaliação de uma pessoa. Deve-se usar também uma entrevista psicológica (para investigar o motivo que leva o sujeito à avaliação e seu histórico), uma prova situacional ou dinâmica de grupo (em caso de seleção de pessoal é comum), além da bateria de testes escolhidos com cuidado. Ao final de tudo isso, é realizado um laudo psicológico com todos os pareceres e resultados do que foi averiguado pelo psicólogo. A avaliação psicológica deve ser dinâmica e levar em conta as ações do sujeito, o que ele diz e o que não diz, mas infere.

Há uma parte de profissionais que não se utiliza dos testes psicológicos porque julgam desnecessários e porque consideram que eles podem ser muito limitadores e enquadrar uma pessoa, sem considerar todo o ambiente cultural, familiar e social do qual ela vive. No entanto, quem se utiliza dessa ferramenta também deve se atentar para a pluralidade dos indivíduos e flexibilizar os resultados dos testes. Não devemos rotular os avaliandos e apenas pontuar as tendências e inclinações. Na realidade, os testes vão apontar e ajudar a esclarecer a resposta para a pergunta que foi feita antes do processo. Por exemplo, se um candidato é apto para a vaga. Nesse sentido, devem ser usados com cautela e como uma das ferramentas que ajudará o psicólogo na investigação da queixa. Eles não devem ser empregados para responder perguntas que os psicólogos não conseguem ou não sabem fazer e nem para confirmar opiniões dos profissionais. Seu uso deve ser profissionalmente eficaz. Além disso, a ética é indispensável na nossa profissão e na avaliação psicológica ou na escritura de um laudo, pois são resultados que dizem respeito à individualidade do ser humano e que podem ser vistos ou lidos como verdades por algumas pessoas.  Então, devemos responsabilizar com o que está sendo falado respaldando em técnicas e métodos validados e eficazes.

Os testes podem ser de personalidade, inteligência, atenção concentrada, atenção difusa, habilidades sociais, saúde, convivência conjugal, para verificar o nível de estresse, etc. Existem testes infantis, para adultos e os que podem ser aplicados em ambos.  Temos os projetivos, isto é, em que o sujeito deposita elementos internos e inconscientes no teste de desenho, de uma história contada; os testes psicométricos em que o resultado está medido em um valor matemático e os inventários, que são perguntas prontas que o avaliando responde conforme mais lhe parecer familiar e parecido com a forma dele pensar. É necessário que o teste meça àquilo a que ele se propõe e, geralmente, consegue.

Uma aplicação bem feita, um teste bem corrigido e analisado pode contribuir bastante com o profissional que opta por esse recurso, pois ele trará elementos importantes e significativos que ajudarão o psicólogo a tomar uma diretriz para o bem estar do sujeito ou para a condução de uma terapia. Aí sim, ele será bem aproveitado.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Impressões do Filme "Hoje eu quero voltar sozinho"

Assisti há um mês ao filme brasileiro Hoje eu quero voltar sozinho, baseado no curta-metragem com o mesmo nome. Sem dúvida, um dos filmes mais lindos que vi nos últimos tempos.

Trata da vida de um adolescente cego que é superprotegido pela mãe e que se descobre apaixonado pelo amigo da escola. Um roteiro que envolve o despertar da homossexualidade, as dificuldades do personagem em lidar com sua deficiência e a abertura dele para a liberdade, estimulada pelo amigo do qual ele se envolve.
Um filme lindo, sensível, com uma condução extremamente delicada, sem estereótipos.
O longa mostra o amor que ultrapassa o preconceito e os limites do próprio corpo. O personagem que também se vê apaixonado pelo menino cego conduz a trama com leveza, e, aos poucos, vai percebendo sua admiração e interesse pelo colega. A história começa com uma amizade aparentemente ingênua e sincera que vai ganhando força e cativando ambos para uma paixão. Eles se declaram e assumem um relacionamento diante da escola. O personagem mostra ao deficiente as delícias e os prazeres de viver e realizar as coisas, independente do seu problema de visão. Dessa maneira, ele insere o garoto em um mundo de desafios, liberdade e maturidade.
Um filme que é mais que indicado para se emocionar e sair do cinema ou da sala com o coração afetado.

Além disso, os personagens são jovens e ótimos atores. Vale a pena conferir!

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Mãe (Desnecessária)

Achei esse texto muito interessante e plausível.
Escrito por Marcia Neder

A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha.
Até agora. Agora, quando minha filha de quase 18 anos começa a dar vôos-solo....
Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.